Jorge Stolfi, 2010-12-18
Last edited on 2010-12-19 00:19:22 by stolfi

ÍNDIA BARRA CONFERÊNCIA SOBRE
INSEGURANÇA DO VOTO ELETRÔNICO

O governo da Índia impediu dois especialistas em urnas eletrônicas de participar de evento científico internacional. Enquanto isso, o presidente do TSE assina acordo com a Comissão Eleitoral da Índia, responsável por essa censura. Alex Halderman é professor da Universidade de Michigan. Rop Gonggrijp é um hacker (no bom sentido da palavra) e ativista holandes. Os dois tem um longo histórico de pesquisa sobre a insegurança de sistemas de voto eletrônico, tendo conseguido demonstrar a fragilidade de pelo menos nove equipamentos, supostamente invioláveis, usados nos EUA e em outros lugares mundo. Assim como as urnas "brasileiras" usadas pelo nosso TSE, esses equipamentos não produzem comprovante material do voto independente do software; e portanto não permitem recontagem e são totalmente vulneráveis a fraudes internas. Em particular, as demonstrações de Alex e Rop causaram tanta impressão na Holanda e na Alemanha que esses países recentemente resolveram abolir a votação eletrônica, e voltaram a usar o voto em papel. No mes passado tive a honra de participar com eles de uma mesa de debates na Fundação Getúlio Vargas (Rio de Janeiro), que disponibilizou o vídeo desse evento. (Pelo que sei, o setor de informática do TSE não aceitou enviar representate para essa mesa; e o representante da Módulo, que fornece serviços ao TSE, cancelou sua apresentação na última hora.) Há poucos meses, Alex e Rop conseguiram também fraudar as máquinas de votar usadas na Índia, que (como as nossas) eram garantidas pelo governo como sendo "invioláveis" e "100% seguras". Depois do evento na FGV, eles viajaram para a Índia para tomar parte em uma mesa de debates similar na Sixth International Conference on Information Systems Security (ICISS 2010), realizada na cidade de Gandhinagar. Porém, conforme notícia da Electronic Frontier Foundation, os dois foram retidos no aeroporto (por 16 e 12 horas, respectivamente) e liberados apenas com a condição de que não comparecessem à conferência. É curioso que, uns poucos dias antes desse incidente, o Comissário Eleitoral da Índia esteve no Brasil e estabeleceu um acordo genérico de cooperação com o TSE. Cabe a pergunta: o que pode o Brasil ganhar cooperando com um órgão que, além de impingir urnas eletrônicas comprovadamente fraudáveis aos cidadãos indianos, ainda por cima promove a censura prévia de eventos científicos e a detenção de cientistas de renome internacional, sem nenhum respaldo legal? Em respeito aos direitos humanos, e ao seu próprio nome, a nossa Justiça Eleitoral deveria imediatamente cancelar esse acordo. Jorge Stolfi [Baseado em notícia repassada pelo Engo. Amilcar Brunazo]