O SOM DO RELÓGIO F. Pessoa O som do relógio Tem a alma por fora: Oiço-lhe, e diz-me: «Eu trago tua hora.» E a cada batida Do seu calcanhar Afirma-me, firme, «Não hás de escapar.» Na pausa que o tique Do taque separa Meu peito se aperta: «Não pára, não pára!» Transfixo, me quedo No escuro a escutar: Morrendo de medo De o tempo acabar.