Last edited on 2005-10-10 14:52:39 by stolfi ============================================================================= « Sou entre mim e mim o intervalo » Sinto de repente pouco, Vácuo, o momento, o lugar. Tudo de repente é oco - Mesmo o meu estar a pensar. Triste de quem é feliz! Vive porque a vida dura. Nada na alma lhe diz Mais que a lição da raiz: Ter por vida a sepultura. Ninguém sabe que coisa quere. Ninguém conhece que alma tem, Nem o que é mal nem o que é bem. ··· É inda quente o fim do dia... ··· Meu coração tem tédio e nada... ··· Da vida sobe maresia... ··· Uma luz azulada e fria ··· Pára nas pedras da calçada... ··· Uma luz azulada e vaga ··· Um resto anônimo do dia... ··· Meu coração não se embriaga ··· Vejo como quem vê e divaga... ··· E uma luz azulada e fria. "E só me encontro quando de mim fujo." ============================================ Emissário de um rei desconhecido, Eu cumpro informes instruções de além, E as bruscas frases que aos meus lábios vêm Soam-me a um outro e anômalo sentido... Inconscientemente me divido Entre mim e a missão que o meu ser tem, E a glória do meu Rei dá-me desdém Por este humano povo entre quem lido... Não sei se existe o Rei que me mandou. Minha missão será eu a esquecer, Meu orgulho o deserto em que em mim estou... ============================================ ...... Quis viver e enganou-se... "Viver não é necessário; o que é necessário é criar." Em meus momentos escuros Em que em mim não há ninguém, E tudo é névoas e muros Quanto a vida dá ou tem, ................... ~~~ Mas o teclado as tuas mãos pararam ~~~ ~~~ E indefinidamente repousaram... ~~~ " O prometido nunca será dado --- Porque no prometer cumpriu-se o fado. " Os Deuses vendem quando dão. Compra-se a glória com desgraça. Ai dos felizes, porque são Só o que passa! Baste a quem baste o que lhe basta O bastante de lhe bastar! A vida é breve, a alma é vasta: Ter é tardar. "OS DEUSES, não os reis, são os tiranos. "É a lei do Fado, a única que oprime. "Pobre criança de maduros anos "Que pensas que há revolta que redime! Que importa a vida, e o que se faz na vida? É tudo uma ignorância diluída. ¤ Todo começo é involuntário. Deus é o agente. O herói a si assiste, vário E inconsciente. ¤ À espada em tuas mãos achada Teu olhar desce. «Que farei eu com esta espada?» Ergueste-a, e fez-se. | O homem e a hora são um só | | Quando Deus faz e a história é feita. | | O mais é carne, cujo pó | | A terra espreita. | Firme em minha tristeza, tal vivi. Cumpri contra o Destino o meu dever. Inutilmente? Não, porque o cumpri. <> Valeu a pena? Tudo vale a pena <> Se a alma não é pequena. "E a minha bondade inversa não é nem boa nem má" ...... Sem a loucura o que é o homem Mais que a besta sadia, Cadáver adiado que procria? ! ! ! ! E, ó vento vago ! ! ! ! Das solidões, ! ! ! ! Minha alma é um lago ! ! ! ! De indecisões. ---> Julgas que outro é outro. ---> Não: somos iguais. Esta espécie de loucura Que é pouco chamar talento E que brilha em mim, na escura Confusão do pensamento, Não me traz felicidade; Porque, enfim, sempre haverá Sol ou sombra na cidade. Mas em mim não sei o que há. ..... Falhei. Quem sou vivi só de supô-lo. ..... E toda a noite não dormida Ouvi bater meu coração Na garganta da minha vida. Só tenho por consolação Que os olhos se me vão acostumando À escuridão. ...( A vida é quanto se perdeu. )... Estudar é uma coisa em que está indistinta A distinção entre nada e coisa nenhuma. ..... Falhei. Enfim! Consegui ser quem sou ..... ? Afinal ? Que vida fiz eu da vida? ? Nada. ? Tudo interstícios, ? Tudo aproximações, ? Tudo função do irregular e do absurdo, ? Tudo nada. ? É por isso que estou tonto ... =============== Perdido, resta o derradeiro inferno ================ =============== Do tédio intérmino, esse de já não ================= =============== Nem aspirar a ter aspiração. ======================= ==================================================================== ==================================================================== ==================================================================== EU SOU LOUCO e tenho por memória Uma longínqua e infiel lembrança De qualquer dita transitória Que sonhei ter quando criança. EU AMO TUDO o que foi, Tudo o que já não é, A dor que já me não dói, A antiga e errônea fé, O ontem que dor deixou, O que deixou alegria Só porque foi, e voou E hoje é já outro dia. (Eu tenho idéias e razões,) (Conheço a cor dos argumentos) (E nunca chego aos corações.) "Um sonho meio sonhado" \ / \ / \ O som do relógio \ / \ / \ Tem a alma por fora "Canta agora a cotovia Sem se lembrar de viver..." Feliz sabor de nada, Inconsciência do mundo, Aqui sem porto ou estrada, Nem horizonte no fundo. | | Esquece-me de súbito | Como é o espaço, e o tempo | Em vez de horizontal | É vertical. + - - - - - - - - - - - > --> Feliz dia para quem é O igual do dia, E no exterior azul que vê Simples confia ! ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ Azul, ou verde, ou roxo quando o sol O doura falsamente de vermelho, O mar é áspero, casual ou mole, É uma vez abismo e outra espelho. No Fim da chuva e do vento Voltou ao céu que voltou A lua, e o luar cinzento De novo, branco, azulou. :: Vejo: cada coisa é sua. :: :: Oiço: cada som é consigo. :: --- Oiço, como se o cheiro --- De flores me acordasse... --- É música - um canteiro --- De influência e disfarce. Sou como a praia a que invade Um mar que torna a descer. ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ "É em nós que há os lagos todos e as florestas" oo Da Perfeição segui em vã conquista, oo oo Mas vi depressa, já sem a alma acesa, oo oo Que a própria ideia em nós dessa beleza oo oo Um infinito de nós mesmos dista. oo | Por mais que pense mil vezes | sempre uma idéia se perde. | | e era essa, era, era essa, | que haveria de salvar | | minha alma da dor da pressa | de... não sei se é desejar. | Fito-me frente a frente, Conheço que estou louco. Não me sinto doente. Fito-me frente a frente. [ Saber não ser é raro. ] E me pergunto o que vivi; Fui claro, fui real, é certo, Mas como é que cheguei aqui? Fito-me frente a frente E conheço quem sou. Estou louco, é evidente, Mas que louco é que estou? É o sentido que existe Na aragem que mal se sente E cuja essência consiste Em passar incertamente. (Dá-me mais vinho, porque a vida é nada.) /\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\ "Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte! Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais! Não deixes pena que ateste a mentira que disseste! Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais! Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!" Disse o corvo, "Nunca mais". \/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/ Tudo isto é nada, Mas numa estrada Como é a vida Há muita coisa Incompreendida... · · · Fosse eu uma metáfora somente · · · -------------------------------------------- Fúria nas trevas o vento Num grande som de alongar, Não há no meu pensamento Senão não poder parar. -------------------------------------------- Sim, não querer, porque querer é um ponto, Ponto no horizonte de onde estamos, E que nunca atingimos nem achamos. ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ + Há dois males: verdade e aspiração, + + E há uma forma só de os saber males: + + É conhecê-los bem, saber que são + + + + Um o horror real, o outro o vazio - + + Horror não menos - dois como que vales + + Duma montanha que ninguém subiu. + ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ Noto à margem do que li O que julguei que senti. ¿ Que angústia me enlaça ? ¿ Que amor não se explica ? : Eu vejo-me e estou sem mim, : : Conheço-me e não sou eu. : "E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto" Não sei, mas meu ser Tornou-se-me estranho, E eu sonho sem ver Os sonhos que tenho. : LEMBRO-ME ou não? Ou sonhei? : : Flui como um rio o que sinto. : : Sou já quem nunca serei : : Na certeza em que me minto. : (Sonho que se sente De si próprio ausente...) · Tenho uma grande tristeza · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · Acrescentada à que sinto. · Quero dizer-ma mas pesa · O quanto comigo minto. MARAVILHA-TE, memória! Lembras o que nunca foi, E a perda daquela história Mais que uma perda me dói. (Vou escrever isto num papel Para ninguém me acreditar...) Lembrando o que não memoro, Alguns me saibam sentir, Mas ninguém me definir "Vou dentro em mim a sombra procurando" LONGE DE MIM em mim existo À parte de quem sou, A sombra e o movimento em que consisto. "Esperar por D. Sebastião, Quer venha ou não!" - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Doze signos do céu o Sol percorre, E, renovando o curso, nasce e morre Nos horizontes do que contemplamos. Tudo em nós é o ponto de onde estamos. Ficções da nossa mesma consciência, Jazemos o instinto e a ciência. E o sol parado nunca percorreu Os doze signos que não há no céu. * Sangra, sinistro, a alguns o astro baço. Seus três anéis irreversíveis são A desgraça, a tristeza, a solidão. Oito luas fatais fitam no espaço. - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Um desejo, não de ser ave, Mas de poder Ter não sei quê do vôo suave Dentro em meu ser. "Os circunflexos brancos das gaivotas" GRANDES MISTÉRIOS HABITAM O limiar do meu ser, O limiar onde hesitam Grandes pássaros que fitam Meu transpor tardo de os ver. ( Se ver é enganar-me, ) ( Pensar um descaminho, ) ( Não sei. Deus os quis dar-me ) ( Por verdade e caminho. ) · · · · · · · · · Se não há nem bondade nem justiça Por que é que anseia o coração na liça Os seus inúteis mitos defendendo? · · · · · · · · · E quanto mais luz lá fora Quanto mais quente é o dia Mais por contrário chora Minha íntima noite fria. "Já estou amigo do escuro" SOU VIL, SOU RELES, COMO TODA A GENTE NÃO TENHO IDEAIS, MAS NÃO OS TEM NINGUÉM. QUEM DIZ QUE OS TEM É COMO EU, MAS MENTE. QUEM DIZ QUE BUSCA É PORQUE NÃO OS TEM. Deuses, forças, almas de ciência ou fé, Eh! Tanta explicação que nada explica! Estou sentado no cais, numa barrica, E não compreendo mais do que de pé. ||| A CIÊNCIA, a ciência, a ciência... ||| Ah, como tudo é nulo e vão! ||| A pobreza da inteligência ||| Ante a riqueza da emoção! que teorias há para quem sente o cérebro quebrar-se, como um dente dum pente de mendigo que emigrou? fecho o caderno dos apontamentos e faço riscos moles e cinzentos nas costas do envelope do que sou ... "Tenho saudades de mim." * * * Tênue passar das horas sem proveito, Leve correr dos dias sem ação, Como a quem com saúde jaz no leito Ou quem sempre se atrasa sem razão. * * * \\\ As algas, cabelos lentos /// Do corpo morto das aguas. \\\ Hirtamente silente nos espaços Uma floresta de escarnados braços Inutilmente erguidos para o céu. "Minha alma beija o quadro que pintou" Olho por todo o meu passado e vejo Que fui quem foi aquilo em torno meu, Salvo o que o vago e incógnito desejo Se ser eu mesmo de meu ser me deu. Serei eu, porque todo o pensamento Podendo conceber, bem pode ser, Um dilatado e múrmuro momento, De tempos-seres de quem sou o viver? O tempo que eu hei sonhado Quantos anos foi de vida! Ah, quanto do meu passado Foi só a vida mentida De um futuro imaginado! ¿ A verdade, quem a quis ? ( A verdade, se ela existe, ( Ver-se-á que só consiste ( Na procura da verdade, ( Porque a vida é só metade. "Sento-me ao pé dos séculos perdidos" MAS A DOR que nos desola, A MÁGOA de um não ser dois NADA EXPLICA nem consola. +==============================+ +| O poeta é um fingidor. |+ +|| Finge tão completamente ||+ +|| Que chega a fingir que é dor ||+ +| A dor que deveras sente. |+ +==============================+ Dizem que finjo ou minto Tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto Com a imaginação. "Sentir? Sinta quem lê!" Mas enfim não há diferença. Se a flor flore sem querer, Sem querer a gente pensa. O que nela é florescer Em nós é ter consciência. Leve no cimo das ervas O dedo do vento roça... Elas dizem-me que sim... Mas eu já não sei de mim Nem do que queira ou que possa. ` Não quero rosas, desde que haja rosas.' ` Quero-as só quando não as possa haver.' ` Que hei-de fazer das coisas ' ` Que qualquer mão pode colher? ' AI que prazer Não cumprir um dever, Ter um livro para ler E não fazer ! ---------------------------------------------------------------------- Vivemos ao encontro do abandono Sem verdade, sem dúvida nem dono. Boa é a vida, mas melhor é o vinho. O amor é bom, mas é melhor o sono. ----------------------------------------------------------------------