# Last edited on 2012-06-18 14:14:03 by stolfi # Encoding: _*_iso-latin-1_*_ Perspectivas de crescimento da UNICAMP Foi alegado que a compra da Fazenda Argentina será necessária para permitir o crescimento da UNICAMP nos próximos 50 ou 100 anos. Porém, não há perspectivas de que a UNICAMP venha a ter recursos *ou vontade* para crescer, mesmo a longo prazo. Observei que com 150 milhões de reais a UNICAMP poderia criar duas novas unidades de ensino e pesquisa, e mantê-las pelos próximos 10 anos. Mas essa proposta foi descartada com o argumento de que a universidade dificilmente terá como manter essas unidades depois desses 10 anos. Eu gostaria de discutir essa análise, as consequências no pior caso, e como a UNICAMP poderia enfrentá-las. Também gostaria de argumentar que a UNICAMP tem a obrigação moral com a sociedade de correr esse risco. Porém, temo que essa discussão seria de pouca utilidade, e não cabe neste momento. Tenho que admitir que, infelizmente, a aversão ao risco de aumento de carga didática, subjacente a essa análise, é predominante na universidade. Mas então, se não podemos nos arriscar a criar nem mesmo uma unidade nova (um crescimento de menos de 5%) nos próximos 10 anos, como podemos acreditar que a compra desse terreno será necessária "para expansão das atividades da Unicamp daqui a 10, 50, 100 anos"? É impossível prever o estado da economia e da política com 10 anos de antecedência. Se a UNICAMP só pode crescer quando tiver certeza de que não haverá risco de aperto futuro, então ela nunca mais vai crescer. (A menos que ela deixe de ser gerida pelos seus docentes. Mas é inútil planejar o futuro de uma universidade que não existe hoje.) Note-se que o número de vagas de vestibular neste campus não aumentou desde 2004. (O único aumento significativo foram as ~500 novas vagas no campus de Limeira). O número de alunos de graduação formados *diminuiu* nesse período. Formamos menos doutores em 2011 do que em 2005, e o número de mestrandos aumentou menos de 20% em 10 anos. O corpo docente encolheu 15% desde 1990, e o de funcionários encolheu 20%[1]. Em suma, tudo indica que a UNICAMP atingiu seu tamanho máximo, pelo menos em número de docentes e funcionários. *E essa estagnação certamente não se deve a falta de terreno.* Por outro lado, com planejamento racional, um quarteirão de 10.000 m^2 seria espaço mais do que suficiente para acomodar uma nova unidade de ensino e pesquisa, do tamanho do IFGW, IQ ou IB -- incluindo escritórios, aulas, laboratórios, etc. Portanto, para ocupar metade da área da Fazenda - 500.000 m^2 - daqui a 100 anos, a UNICAMP teria que crescer o equivalente a *uma nova unidade de ensino e pesquisa a cada dois anos, sem parar, pelos próximos 100 anos*. Mesmo que, por milagre, a UNICAMP ainda conseguisse criar uma nova unidade a cada *dez* anos, daqui a 100 anos ela ainda não teria esgotado as áreas livres de seu campus atual. Se ela re-construir prédios ineficientes, mesmo crescendo a esse ritmo ela já tem terreno de sobra para 200 anos. Faz sentido planejar para uma hipotética falta de espaço daqui a 200 anos? Por isso, insisto: a UNICAMP não precisa de mais terreno, e não vai precisar, nem nos próximos 100 anos. Nem mesmo de 100 mil m^2, quanto mais 1 milhão e meio. É verdade que o vale refeição consumiria 150 milhões em dois anos. Mas, pelo menos, ele vai beneficiar 10.000 pessoas durante esses dois anos. Até onde posso ver, a compra da Fazenda Argentina beneficiaria apenas uma pessoa: seu atual proprietário. --stolfi [1] Anuário Estatístico da UNICAMP 2012: http://www.aeplan.unicamp.br/anuario_estatistico_2012/index_arquivos/anuario2012.pdf Jorge Stolfi Professor Titular Instituto de Computação, UNICAMP