# Last edited on 2012-06-04 15:32:50 by stolfi # Encoding: _*_iso-latin-1_*_ To: staff Subject: As Leis de Parkinson Na década de 1950, o historiador britânico Cyril Parkinson começou a publicar uma série de "leis" de gestão, hoje conhecidas como as Leis de Parkinson. Embora caricaturais, elas geralmente contém bem mais do que um grão de verdade. Uma das Leis, por exemplo, afirma que a decisão de construir uma nova sede geralmente marca o início da decadência de uma instituição. Além de dar exemplos notórios, Parkinson apresentou uma explicação teórica. Em primeiro lugar, a construção de uma nova sede geralmente exige um enorme investimento de recursos humanos e materiais, geralmente sub-estimados, que desvia a atenção da instituição de seus objetivos primários e a deixa exausta e fragilizada. Em segundo lugar, a mudança para uma nova sede muitas vezes destrói as redes informais de cooperação que existiam na sede antiga, porque pessoas que antes eram próximas são remanejadas para andares ou prédios separados. Mas, principalmente, porque essa decisão é muitas vezes o sintoma de que a instituição perdeu sua razão de ser, ou não acredita mais na sua missã original. A construção de uma nova sede passa então a ser um objetivo-meio que permite à instituição evitar de pensar na perda do objetivo-fim. Outra Lei de Parkinson, talvez mais famosa, diz que o tempo gasto com um item em uma reunião de comitê é inversamente proporcional ao valor monetário envolvido. Para ilustrar essa Lei, Parkinson cita o exemplo imaginário de uma reunião do Ministério de Energia onde os itens são uma usina nuclear de dez bilhões de libras, um abrigo para bicicletas no estacionamento, e a conta mensal do café. Há apenas um membro presente que entende o suficiente de energia nuclear para perceber que a usina está superfaturada; mas ele se cala porque sabe que os outros não vão entender ou acreditar nas suas objeções, e o item é aprovado sem discussão. Quanto ao abrigo, alguém pergunta se não seria melhor teto de zinco em vez de amianto, e outro se vai ter espaço para todos; depois de meia hora o item é aprovado. Sobre o café todo mundo tem opinião, dá briga, e depois de duas horas o assunto é adiado para a próxima reunião. Com certeza todos vocês já participaram de reuniões assim. A compra da Fazenda Argentina pelo visto vai ser outro exemplo cabal dessa segunda Lei de Parkinson. Será a maior quantia já gasta em um único projeto pela UNICAMP desde sua criação. Mas suponho que vai ser aprovada no CONSU de amanhã em poucos minutos --- sem NENHUMA justificativa, NENHUMA discussão na universidade, NENHUMA informação sobre o estado e proprietários da área, e NENHUMA licitação. E, na medida em que parece ser a manifestação de um projeto subconsciente de "nova sede" para a UNICAMP, pode ser um exemplo da primeira Lei acima também. Deprimidamente, --stolfi Jorge Stolfi Professor Titular Instituto de Computação, UNICAMP