Todo dia resolvo que vou me arrepender Da via devassa, assim que anoitecer; Mas, passada a noite de vinho e de prazer Lamento apenas ter pensado em resolver. -- Antes que o tempo te pegue de surpresa Pede um bom vinho, e senta à farta mesa, Não és de ouro, guarda-te da mentira: Ao pó irás, e ninguém de lá te tira. -- Quando o Criador fez a natureza Porque foi imperfeita essa proeza? Se boa é, porque finda em tristeza? Se é ruim, porque tanta beleza? -- O Dedo Divino escreve, e tendo escrito Adiante segue: e não há Saber ou Rito Que meia linha a remediar o traga; Todo teu pranto nem uma letra apaga. -- A primavera já está em dezembro, E o fogo ardente virou brasa mansa; Da tal de juventude, mal me lembro, E da vida, sei apenas quanto cansa. -- Não é metáfora, mas a pura verdade: Somos bonecos, e o Fado nos manobra. Ele nos arrasta, desde a mocidade Ao baú do nada, e feita está sua obra. -- Desde a terra à celestial esfera Já respondemos todos os quesitos; Desvendamos mistérios infinitos--- Exceto o que na cova nos espera. Dos "Rubaiyat" de Omar Khayyam Matemático e astrônomo persa, 1048--1123. Trad. (indireta) de J. Stolfi # Last edited on 2005-08-04 14:05:44 by stolfi ----------------------------------------------------------------------