Seminário de Teoria da Computação Incompletude da Aritmética Formal: a prova de Gödel Guilherme Albuquerque Pinto Sexta-feira, 14 de março de 2003 Sala 96 (IC2), 13:00hs Resumo: Alguns livros-texto de Complexidade Computacional, ex. Papadimitriou, e de Computabilidade, ex. Rogers, trazem provas do teorema da Incompletude pela via da indecidibilidade. Quer dizer, a indecidibilidade de um certo problema computacional implica diretamente no Teorema da Incompletude. Essas provas são, em essência, aquelas dadas por Church e Turing, cerca de cinco anos após a publicação do famoso artigo de Gödel em 1931, quando ele mostrou que um Sistema Formal, não importa o quão expressivo, será sempre incompleto, nunca poderá demonstrar todas as sentenças aritméticas válidas. Não causa, claro, nenhuma estranheza que livros-texto de teoria da computação prefiram abordar a incompletude da aritmética pela via da computabilidade. Mas é de franzir a testa que o próprio Gödel tenha dito, uma vez, que após o trabalho de Turing o seu Teorema da Incompletude podia ser provado de maneira "mais satisfatória" por aquela via. O fato é que, ao contrário das provas "computacionais", a prova de Gödel tem mesmo algum potencial para suscitar paradoxos e para causar desconforto na intuição matemática do leitor. A origem desse potencial é o cerne da prova, a sentença aritmética $G$ que diz que ela própria não pode ser demonstrada. A sentença $G$ é, ao mesmo tempo, o fogo do céu que permitiu Gödel provar o teorema, e o pomo da discórdia que alimenta discussões filosóficas até hoje sobre o "real" significado do resultado de Gödel. Neste rápido seminário não iremos tratar das discussões filosóficas. Vamos sim, sem medo de ser feliz, após revisar alguns conceitos sobre Sistemas Formais para poder enunciar o Teorema da Incompletude, ver como Gödel conseguiu construir a sentença $G$; como ocorre efetivamente a auto-referência na sentença; e como ela leva à prova do Teorema. Nesse caminho, vamos ver as duas ferramentas que ele usou e que ficaram conhecidas como o Lema da Correspondência e a Numeração de Gödel. Teremos também, no final, oportunidade para voltar à discussão: o que essa incompletude tem a ver com a nossa indecidibilidade? Incompletude e indecidibilidade são más ou boas notícias?